
Inadimplência, juros elevados e quedas no consumo e na confiança explicam recuo do emprego formal no Estado, avalia FecomercioSP
O mercado de trabalho apontou uma deterioração preocupante no primeiro trimestre deste ano, segundo dados da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). Após uma perda de 17.394 vagas em janeiro, o saldo do emprego celetista no Comércio paulista apresentou recuperação em fevereiro, com a criação de 15.331 postos de trabalho, mas voltou a cair em março, registrando um déficit de 3.313 vagas, puxado, principalmente, pelo varejo.
Na avaliação da Federação, a queda no consumo, os juros elevados, o aumento na inadimplência e a menor confiança em relação à economia foram os principais fatores que influenciaram esse resultado.
[Gráfico 1]
Saldo do Emprego Celetista no Comércio do Estado de São Paulo
Série histórica (13 meses)
Fonte: novo Caged
Elaboração: FecomercioSP
No acumulado entre janeiro e março, o varejo registrou a perda de 13.443 vagas, enquanto o atacado e o segmento de veículos apresentaram saldos positivos de 5.552 e 2.630 postos de trabalho, respectivamente — embora ambos também tenham desacelerado as contratações. Com isso, o saldo total do período foi negativo em 5.261 vagas. O resultado geral foi comprometido pelo comércio varejista, apesar de os demais segmentos ainda terem gerado empregos.
[Tabela 1]
Movimentação do Emprego Celetista no Comércio do Estado de São Paulo
1º Trimestre de 2025
Fonte: novo Caged
Elaboração: FecomercioSP
Março apresentou o pior desempenho do trimestre, com um saldo negativo de 3.313 vagas, resultado de 149.357 demissões e 146.044 admissões. Mais uma vez, o comércio varejista foi o principal responsável, com a perda de 3.901 vagas — volume superior ao saldo negativo total, já que os outros segmentos compensaram parcialmente com saldos positivos. O atacado criou 471 novas vagas e o comércio e reparação de veículos, 117 postos de trabalho.
Só em março, o comércio varejista concentrou mais de 40% das perdas de vagas no trimestre, indicando uma mudança brusca na demanda interna, crédito mais restrito e/ou ajustes pós-sazonais mais prolongados que o normal. Nos segmentos de atacado e veículos, a desaceleração pode estar relacionada a cautela dos empresários na reposição de estoques e ajustes na estrutura operacional, diante das incertezas do ambiente macroeconômico.
[Tabela 2]
Movimentação do Emprego Celetista no Comércio do Estado de São Paulo
Março 2025
Fonte: novo Caged
Elaboração: FecomercioSP
Segundo a FecomercioSP, ainda que os dados do Produto Interno Bruto (PIB) e das vendas não reflitam esse movimento, o mercado de trabalho pode estar antecipando um problema. Caso os próximos meses confirmem a tendência negativa observada até aqui, os impactos poderão se estender ao emprego, à renda e à atuação do Comércio e dos Serviços como um todo.
Mercado de trabalho na capital paulista
Na capital paulista, o cenário também é parecido. Embora o saldo acumulado no primeiro trimestre tenha sido positivo (4 vagas, após 125.831 admissões e 125.827 desligamentos), o mês de março, que terminou com saldo negativo de 305 postos de trabalho, reverteu quase todos os ganhos anteriores, revelando uma piora nas condições do mercado de trabalho local.
Além do comércio varejista (que perdeu 2.477 postos no ano), contribuíram para esse contexto a desaceleração nos setores de atacado (1.695 novos postos de trabalho) e veículos (criação de 786 vagas), sinalizando maior cautela empresarial e que o setor ainda depende de uma recuperação mais consistente da demanda para sustentar contratações. Com esses resultados, o estoque de empregos formais nos primeiros três meses do ano soma 599.636 postos.
Serviços geram mais de 114 mil vagas no 1º trimestre, mas desaceleram em março
O setor de Serviços terminou o primeiro trimestre com mais de 114 mil postos de trabalho criados. O resultado foi influenciado, principalmente, pelas atividades administrativas e os serviços complementares, que gerou 23.999 novas oportunidades de trabalho. Educação (27.362); transporte, armazenagem e correio (15.841); saúde humana e serviços sociais (13.826); e atividades profissionais, científicas e técnicas (10.057), também contribuíram.
[Tabela 3]
Movimentação do Emprego Celetista nos Serviços do Estado de São Paulo
1º Trimestre de 2025
Fonte: novo Caged
Elaboração: FecomercioSP
Contudo, o último mês do período foi marcado por uma moderação no ritmo de crescimento, com a geração de 20.301 novos postos de trabalho. O resultado ficou abaixo da média mensal observada em janeiro e fevereiro (46.928).
Os segmentos que mais influenciaram esses números foram os de educação (2.529); atividades administrativas e serviços complementares (-946); e alojamento e alimentação (-1.855), que sofreram perda de dinamismo — ou até mesmo saldos negativos em março — após boas performances nos meses anteriores.
[Tabela 4]
Movimentação do Emprego Celetista nos Serviços do Estado de São Paulo
Março 2025
Fonte: novo Caged
Elaboração: FecomercioSP
De acordo com a FecomercioSP, a reversão nas atividades administrativas, tradicionalmente sensíveis ao ciclo econômico, pode indicar ajustes de custo ou precauções diante das dúvidas macroeconômicas. Por outro lado, setores como saúde, informação e comunicação e, especialmente, transporte, armazenagem e correio ganharam tração em março, indicando a continuidade das tendências estruturais (como demanda logística, digitalização e serviços essenciais) e ajudando a compensar a perda de fôlego em áreas mais cíclicas.
[Gráfico 2]
Saldo do Emprego Celetista nos Serviços do Estado de São Paulo
Série histórica (13 meses)
Fonte: novo Caged
Elaboração: FecomercioSP
No caso dos Serviços, a FecomercioSP também avalia que, para os próximos meses, será importante acompanhar se a desaceleração observada em março é um ponto fora da curva — influenciada por sazonalidades —, ou o início de um movimento mais estrutural de acomodação e desaceleração do mercado de trabalho formal.
Serviços em São Paulo
Na capital, o mercado de trabalho terminou os três primeiros meses do ano com 32.204 vagas, resultado de 506.815 admissões e 474.611 desligamentos. Apesar disso, houve forte desaceleração em março, quando o setor gerou apenas 3.024 novos postos. A FecomercioSP aponta que setores que vinham puxando o crescimento, como educação e serviços administrativos, apresentaram saldos negativos, indicando possível reversão ou ajuste de contratações após o início do ano.
Por outro lado, saúde, transporte e serviços profissionais mantiveram expansão, mesmo que em menor intensidade, sendo os principais responsáveis por evitar um saldo ainda menor. Segmentos como artes e cultura também apresentaram dinamismo, sugerindo continuidade da retomada presencial de eventos. A capital paulista mostra um perfil de retração mais acentuada do que o Estado, reforçando a necessidade de atenção com os setores mais sensíveis a oscilações de demanda e custos operacionais.
Nota metodológica
A Pesquisa de Emprego no Estado de São Paulo (PESP) passou por reformulação em sua metodologia e, agora, analisa o nível de emprego celetista do comércio e serviços do Estado de São Paulo a partir de dados do novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), elaborado pelo Ministério do Trabalho – passando a se chamar PESP de Comércio e Serviços.
Sobre a FecomercioSP
Reúne líderes empresariais, especialistas e consultores para fomentar o desenvolvimento do empreendedorismo. Em conjunto com o governo, mobiliza-se pela desburocratização e pela modernização, desenvolve soluções, elabora pesquisas e disponibiliza conteúdo prático sobre as questões que impactam a vida do empreendedor. Representa 1,8 milhão de empresários, que respondem por quase 10% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e geram em torno de 10 milhões de empregos.
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Assessoria de imprensa da FecomercioSP