Degradação na Amazônia Cresce 329% em Quase 2 Anos e Atinge Maior Nível da Série Histórica

Belém, PA – A degradação florestal na Amazônia Legal disparou 329% entre agosto de 2023 e março de 2025, saltando de 7.925 km² para 34.013 km², segundo dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
O índice, divulgado nesta sexta-feira (25), é o maior já registrado na série histórica do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), iniciada em 2008, e equivale a uma área maior que o estado de Alagoas. A explosão de queimadas, intensificada pela pior estiagem em 74 anos, é apontada como a principal causa do aumento, que ameaça a biodiversidade e compromete a imagem do Brasil às vésperas da COP30, a ser realizada em Belém.
Queimadas e Estiagem Agravam o Cenário
A degradação, distinta do desmatamento por envolver danos parciais à vegetação, como queimadas e extração madeireira, foi especialmente grave em 2024. Dados do Imazon mostram que 82% da degradação registrada no ano ocorreu no segundo semestre, com setembro atingindo um pico de 20.238 km² – área equivalente a 13 vezes a cidade de São Paulo. “A intensificação dos incêndios florestais, agravada pela mudança climática e pela seca extrema, explica esse recorde”, afirmou Larissa Amorim, pesquisadora do Imazon.
O Pará liderou o ranking, respondendo por 57% da degradação em setembro de 2024, com 11.558 km² afetados – um aumento de quase 60 vezes em relação aos 196 km² de setembro de 2023. Sete dos dez municípios mais degradados são paraenses, com destaque para São Félix do Xingu (3.966 km²), Ourilândia do Norte (1.547 km²) e Novo Progresso (1.301 km²). Mato Grosso (25%), Rondônia (10%) e Amazonas (7%) também registraram perdas significativas.
Desmatamento Também Preocupa
Embora o desmatamento tenha caído 7% em 2024, com 3.739 km² de floresta derrubada, o Imazon registrou um aumento de 17,8% entre agosto de 2024 e março de 2025, totalizando 167 km² apenas em março. Mato Grosso liderou com 65 km² (39%), seguido pelo Pará. A alta, após 14 meses de redução, reacende alertas sobre a eficácia das políticas de fiscalização. “Estamos em uma janela de tempo para reverter esse cenário, mas é preciso agir com urgência”, destacou Amorim.

Áreas protegidas, como a Terra Indígena Kayapó e a Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu, ambas no Pará, estão entre as mais afetadas, com 3.438 km² e 1.426 km² degradados, respectivamente. A vulnerabilidade dessas regiões, agravada pela redução de umidade e aumento de temperatura, evidencia a necessidade de ações específicas contra o fogo.

Reação do Governo e Críticas
O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), comandado por Marina Silva, atribuiu o aumento da degradação aos incêndios intensificados pela estiagem e destacou que 1.500 profissionais, incluindo brigadistas do Ibama e ICMBio, atuam no combate ao fogo, com 90% dos incêndios controlados. O MMA afirmou que monitora as áreas queimadas para restauração e regeneração.

No entanto, a escalada de focos de calor – 104,6 mil em 2024, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) – expôs fragilidades na prevenção. Críticas nas redes sociais, como as do perfil

@BrazilenDireita, acusam o governo Lula de ineficiência, alegando que a degradação cresceu “cinco vezes mais” que na gestão Bolsonaro. Por outro lado, o governo destaca a redução de 21,8% no desmatamento em 2023 como prova de avanços.
Impactos e Desafios para a COP30
A degradação recorde compromete a biodiversidade, aumenta emissões de carbono e afeta comunidades tradicionais, cuja saúde e subsistência dependem da floresta. Especialistas alertam que áreas degradadas podem se tornar mais suscetíveis a novos incêndios, perpetuando um ciclo de destruição. “Os danos nas terras indígenas são indicadores de violações de direitos e ameaças ao modo de vida dessas populações”, frisou Raissa, pesquisadora do Imazon.

Com a COP30 marcada para novembro em Belém, o Brasil enfrenta pressão para demonstrar compromisso com a meta de zerar o desmatamento até 2030. O governo do Pará, que sedia o evento, informou que intensificou fiscalizações por meio da Operação Curupira, embargando 37 mil hectares de áreas ilegais em 2024. Contudo, a dominância do estado nos índices de degradação levanta questionamentos sobre a eficácia dessas medidas.

O Imazon recomenda maior investimento em monitoramento, responsabilização de culpados e restauração de áreas degradadas. Enquanto a estação chuvosa oferece uma oportunidade para conter os danos, a falta de ações robustas pode agravar a crise climática e comprometer o papel da Amazônia como sumidouro de carbono.
Com informações de Imazon, G1, Estadão, Poder360, Folha de S.Paulo e postagens no X.

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