“Entre Corruptos, Se Protegem”: Decisão do Brasil de Asilar Nadine Heredia Provoca Críticas e Indignação no Peru

A decisão do governo brasileiro de conceder asilo diplomático à ex-primeira-dama do Peru, Nadine Heredia, provocou uma onda de críticas da imprensa e de autoridades peruanas, além de repercussões no cenário político brasileiro. Heredia, esposa do ex-presidente Ollanta Humala, chegou a Brasília na quarta-feira (16) após obter um salvo-conduto do governo de seu país para deixar Lima.

Condenada na terça-feira (15) a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro, Heredia buscou refúgio na Embaixada do Brasil em Lima, onde permaneceu até receber a autorização para vir ao Brasil. A sentença está relacionada ao recebimento de recursos ilícitos provenientes da empreiteira brasileira Odebrecht e do governo do ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, utilizados para financiar campanhas eleitorais de Humala, que governou o Peru entre 2011 e 2016.

Enquanto Humala foi preso, sua esposa evitou a detenção ao obter asilo em território brasileiro, o que foi suficiente para desencadear duras críticas de veículos de comunicação e figuras públicas do Peru. Manchetes como “Entre corruptos, se protegem”, do jornal Diario Trome, ecoaram a indignação no país vizinho. O tradicional El Comercio destacou a avaliação do ex-chanceler Francisco Tudela, que considerou o asilo “irregular” e “concedido a quem não se qualifica”.

O jornal Correo também ironizou a decisão brasileira, dizendo que Heredia “ri da justiça enquanto o marido vai para a prisão”.

(Reprodução)

No jornal La Razón, o principal destaque foi a informação de que Nadine Heredia vai morar com o filho em uma “mansão” localizada em São Paulo. A publicação também relatou que a esposa do ex-presidente Ollanta Humala “deixou o Peru durante a madrugada” e esteve “constantemente escoltada por diplomatas e agentes federais do Brasil”.

Reação no Brasil

A concessão do asilo diplomático também repercutiu no Congresso Nacional. Parlamentares da oposição apresentaram pedidos de explicações ao Ministério das Relações Exteriores e questionam os critérios adotados pelo governo Lula (PT) na decisão. Críticos apontam que a medida pode representar um enfraquecimento do compromisso brasileiro com o combate à corrupção na América Latina.

O Itamaraty justificou a decisão com base na Convenção sobre Asilo Diplomático de 1954, da qual tanto o Brasil quanto o Peru são signatários. A norma prevê a possibilidade de conceder proteção a pessoas perseguidas por motivos políticos. No entanto, autoridades peruanas argumentam que o caso de Heredia não se enquadra nesse contexto, já que ela foi condenada por corrupção e lavagem de dinheiro.

A concessão de asilo à ex-primeira-dama insere-se em um debate mais amplo sobre o papel internacional do Brasil e sua política externa em casos de figuras públicas condenadas em seus países de origem. Para analistas políticos, o episódio poderá fragilizar a imagem do Brasil perante governos vizinhos e comprometer futuras cooperações internacionais em temas de justiça e combate à criminalidade transnacional.

Heredia está em São Paulo acompanhada do filho adolescente, que também recebeu autorização para se instalar no país.

Gazeta Brasil

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