Bolsonaro deve ainda conversar novamente com Donald Trump, depois que ele retornar do G7
O governo de Jair Bolsonaro comemorou o desfecho da reunião de cúpula do G7, na França. Na visão do Palácio do Planalto, o presidente francês, Emmanuel Macron, ficou isolado na tentativa de usar as queimadas da Amazônia como justificativa para impedir o avanço do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia.
Embora líderes europeus endossem as críticas feitas por Macron à política ambiental de Bolsonaro, eles não concordaram em usar o tratado como instrumento de punição ao Brasil pelo controle frágil nos incêndios que atingem a região norte do país.
Aliados do presidente avaliam como fundamental o fato de o Brasil ter conseguido apoio público de outros países como Chile e Espanha, convidados a participar do G7. Além disso, celebraram a manifestação pública do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que integra o fórum.
O posicionamento da chanceler alemã, Angela Merkel, também foi considerado essencial. Ela foi a primeira a discordar da declaração de Macron de que a situação ambiental brasileira seria impeditivo para continuidade do acordo comercial firmado em junho pelos dois blocos.
A chanceler alemã foi apoiada pelo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e pelo governo espanhol. Foi recebido com entusiasmo pelo governo brasileiro, neste domingo (25), um vídeo em que Merkel diz, durante a reunião do G7, que entrará em contato com Bolsonaro.
A visão do Palácio do Planalto e de integrantes da diplomacia brasileira é de que o pior da crise já passou e que a enxurrada de críticas internacionais à política ambiental brasileira deve perder força nas próximas semanas.
“Desde o princípio busquei o diálogo junto aos líderes do G7, bem como da Espanha e Chile, que participam como convidados. O Brasil é um país que recupera sua credibilidade e faz comércio com praticamente o mundo todo”, escreveu Bolsonaro neste domingo ao replicar o vídeo.
Na visão de diplomatas que conversaram com a reportagem, o tema da Amazônia perdeu força no noticiário internacional deste domingo, quando as discussões sobre a situação do Irã cresceram.
Os incêndios na região amazônica tiveram destaque nos principais jornais do mundo entre sexta e sábado (24), quando a cúpula do G7 teve início em Biarritz, balneário francês.
O assunto ganhou força depois que Macron usou suas redes sociais na sexta (23) para dizer que se tratava de uma “crise internacional” e que o tema seria levado por ele ao encontro do G7, fórum do qual o Brasil não é parte.
“A gente acha que vai prevalecer o bom senso e a verdade. Aquela postura que Macron começou é equivocada, tanto que não foi apoiada pelos outros chefes de Estado”, afirmou o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
Salles se refere à ameaça do presidente francês de não levar adiante o tratado comercial entre União Europeia e Mercosul. Ele e Bolsonaro conversaram neste domingo por telefone.
Chamando o presidente brasileiro de “mentiroso”, Macron disse que Bolsonaro não estava cumprindo seu compromisso com políticas ambientais ao ver o agravamento dos incêndios na floresta amazônica.
A visão de Salles é compartilhada pelo chefe da Secretaria de Governo, ministro Luiz Ramos, que esteve com Bolsonaro neste domingo no Palácio da Alvorada.
Ao deixar o encontro, Ramos disse à Folha que a avaliação do Planalto é de que a crise diminuiu e que as ações das Forças Armadas ajudaram a controlar os incêndios e a imagem brasileira no exterior.
Entrou em vigor no sábado (24) um decreto de GLO (Garantia da Lei e da Ordem), assinado por Bolsonaro, autorizando o emprego nas Forças Armadas na região na Amazônia Legal para combater as queimadas.
“A leitura, para ele e para mim, é de que a tentativa do Macron de usar isso é, na realidade, porque os maiores competidores do nosso agronegócio estão na França”, disse Ramos.
“Ele tentou e não colou. Angela Merkel não comprou a ideia. Trump puxou a orelha”, disse. “A tentativa de Macron não funcionou.”
O governo tem adotado o discurso de que as críticas de Macron refletem interesses comerciais e eleitorais do presidente, que enfrenta uma queda de popularidade após o episódio dos coletes amarelos no país.
Integrantes da diplomacia francesa entraram em contato com auxiliares de Bolsonaro para diminuir o clima de tensão desenhado no fim da semana passada. Foi transmitida a imagem de que Macron foi mal aconselhado ao adotar tom elevado.
A leitura feita internamente pelo governo brasileiro é de que a sinalização da França não passará disso, já que uma ligação direta de Macron ao presidente brasileiro poderia transmitir a ideia de que ele mudou de ideia, o que o prejudicaria no cenário eleitoral em seu país.
No sábado, Bolsonaro disse que conversaria com Macron se ele resolvesse telefonar. Mas ponderou que não partiria dele a iniciativa.
O Planalto agora se prepara para um telefonema de Merkel ao presidente brasileiro, o que deve ocorrer nos próximos dias.
Bolsonaro deve ainda conversar novamente com o americano Donald Trump, depois que ele retornar do G7 aos EUA. Os dois se falaram por telefone na sexta, quando os americanos ofereceram suporte ao Brasil no combate às queimadas.
O governo brasileiro comemorou ainda o telefonema neste domingo do primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu para oferecer ajuda na Amazônia.
Segundo o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que publicou a informação no Twitter, o governo aceitou receber de Israel um avião com equipamentos para apagar incêndios. A expectativa é de que o auxílio chegue na terça-feira (27).
Nos bastidores da diplomacia, a ajuda dos EUA e de Israel é vista com alguma ressalva, já que os dois países têm pressionado o Brasil para tomar um posicionamento contra o Irã.
O governo brasileiro avalia o tema com cautela já que a balança comercial com o país persa é favorável. (FolhaPress)