Ouriços, veados, esquilos, tartarugas, lagartos, entre outras espécies de mamíferos, pássaros e répteis foram cercados pelo fogo e intoxicados pela fumaça.
Por RFI
Como Grécia, Turquia e Argélia, a Itália é palco de incêndios florestais agravados pela onda de calor na região do Mar Mediterrâneo. Junto com a vegetação, animais silvestres também se tornam reféns do fogo, a maioria das vezes ateado propositalmente.
A Itália é frequentemente palco de incêndios criminosos, mas este ano a situação piorou. Segundo a associação Legambiente, nos últimos dois meses, cerca de 20 milhões de animais morreram em incêndios. São ouriços, veados, esquilos, tartarugas, lagartos, entre outras espécies de mamíferos, pássaros e répteis, que cercados pelo fogo e intoxicados pela fumaça, não conseguem fugir para locais seguros.
A estimativa de animais silvestres mortos é calculada com base nos hectares de terra queimada. Nos dois primeiros meses deste verão no Hemisfério Norte, cerca de 100 mil hectares foram devorados pelas chamas.
O massacre se repete de forma dramática todos os anos e diz respeito principalmente ao sul do país. No total, 55% das chamas concentram-se nas regiões meridionais da península italiana, como a Campânia, Apúlia, Calábria, Sardenha e Sicília.
O crime de incêndio é severamente punido por lei na Itália porque as consequências podem ser devastadoras, destruindo hectares de árvores e causando a morte de pessoas e animais, com incalculáveis danos ambientais. As penas podem chegar de 7 a 10 anos de prisão.
Mas, apesar das penas serem severas para os incêndios criminosos, dificilmente elas são aplicadas. O crime organizado também se aproveita desta situação.
Incêndios criminosos
Os motivos de um incêndio podem ser vários: intimidar, causar danos à polícia, eliminar trechos de mata para novas construções, entre outros. Em alguns casos, na Itália, o fogo é provocado pelas próprias pessoas que devem apagá-lo, ou seja, trabalhadores florestais precários que querem receber um pagamento extra.
O assessor para o Território e Ambiente da Sicília, Toto Cordaro, afirmou ao jornal italiano La Repubblica que “existe um plano criminoso nos incêndios”. Para agravar a situação, na região siciliana, cerca de 400 bombeiros florestais estão de férias a partir de 10 de agosto.
Recorde de calor
A Itália registra ainda uma onda de calor histórica. Na província de Siracusa, na ilha da Sicília, os termômetros registraram 48,8°C na quarta-feira (11), o recorde da Europa, superando os 38 graus de Atenas, em 1977, segundo o diário Corriere dela Sera. De acordo com as previsões dos meteorologistas, o calor vai se espalhar por toda a península. O Lúcifer, anticiclone responsável pelas altas temperaturas na Itália, deverá se deslocar para o norte do país nos próximos dias.
“Essa frente de alta pressão viaja do Saara ao Mar Mediterrâneo e chega à Itália trazendo umidade” explicou Antonio Sanò, presidente do site de previsões meteorológicas Ilmeteo.it.
Tradicionalmente, o período em torno ao 15 de agosto, chamado na Itália de “Ferragosto”, é o mais quente do ano. Essas altas temperaturas no verão não são incomuns, mas sua longa duração é excepcional. Neste ano, em vez de durar alguns dias, tornaram-se constantes desde junho, principalmente no sul. Se até a quarta-feira o calor tórrido poupou o Norte, a situação começa a mudar a partir desta quinta-feira (12).
Os bombeiros italianos lutam contra um incêndio que assola Palermo, na Sicília, que expulsou as pessoas de suas casas — Foto: Stringer/Vigili del Fuoco/AFP
A onda de calor na Itália é consequência do aquecimento global. O recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) indicou um aumento das temperaturas do planeta com danos irreversíveis. As mudanças climáticas causadas pelos seres humanos resultaram em um acréscimo de 1,07º na média da temperatura do planeta.