
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Brasília, 5 de maio de 2025 – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) demitiu a ministra das Mulheres, Aparecida Gonçalves, conhecida como Cida Gonçalves, após uma série de denúncias de assédio moral e xenofobia que vinham se acumulando desde 2024. A exoneração, confirmada por fontes do Palácio do Planalto ao Brasil de Fato, marca mais uma troca na Esplanada dos Ministérios e ocorre em meio a desgastes políticos que comprometeram a imagem da pasta. A ex-ministra do Desenvolvimento Social Márcia Lopes, convidada por Lula em março, deve assumir o cargo na próxima semana.
Denúncias de Assédio Moral e Xenofobia As acusações contra Cida Gonçalves vieram à tona em outubro de 2024, quando o site Alma Preta publicou relatos de 17 testemunhas anônimas, incluindo servidoras e ex-servidoras do Ministério das Mulheres, que apontaram a ministra e a secretária-executiva, Maria Helena Guarezi, como responsáveis por práticas de assédio moral e racismo. Em janeiro de 2025, o jornal O Estado de S. Paulo revelou cinco denúncias formais, acompanhadas de dossiês e gravações de reuniões internas, encaminhadas à Controladoria-Geral da União (CGU) e à Comissão de Ética Pública (CEP) da Presidência.
Os relatos descrevem um ambiente de trabalho hostil, marcado por ameaças de demissão, cobranças excessivas em prazos inviáveis, gritos e tratamento desrespeitoso. Um dos episódios centrais envolveu a exoneração da secretária nacional de Articulação Institucional, Carmem Foro, em agosto de 2024, após desentendimentos com Cida. Em uma reunião posterior, a ministra teria ameaçado demitir servidores ligados a Foro, dizendo: “Quem é dela e que veio com ela, tinha que ir.” Outras denúncias apontam falas xenofóbicas, como a declaração de Cida sobre recrutar “uma mulher negra, do Norte ou do Nordeste”, interpretada como desvalorização de servidoras da região Norte.
Além disso, a secretária-executiva Maria Helena Guarezi foi acusada de racismo por supostamente pedir a Carmem Foro, que tem cabelo crespo, para se sentar em uma reunião, alegando que seu cabelo “atrapalhava a visão do espaço”. Servidoras relataram que Cida, informada do caso, não tomou providências, e comentários como “de novo isso de racismo?” eram frequentes no ministério.
Investigações e Arquivamento A CGU encaminhou as denúncias contra Cida à Comissão de Ética Pública, por não ter competência para investigar ministras, enquanto as acusações contra outras servidoras, como Guarezi, foram arquivadas por falta de “elementos suficientes”. Em fevereiro de 2025, a CEP arquivou o processo contra Cida, com a defesa da ministra alegando que ela foi alvo de uma “campanha difamatória”. Um áudio revelado por posts no X, no entanto, mostrou que Cida ofereceu benefícios à ex-secretária Carmem Foro, como cargo na COP30 e verbas para sua campanha eleitoral no Pará em 2026, em troca de silêncio sobre um suposto caso de racismo, o que intensificou as críticas.
Contexto Político e Reforma Ministerial A demissão de Cida Gonçalves ocorre em um momento de reformulação do governo Lula, que já substituiu outros ministros em 2025, como Paulo Pimenta (Secom), Nísia Trindade (Saúde) e Juscelino Filho (Comunicações). A saída da ministra, que era próxima da primeira-dama Rosângela da Silva (Janja), também foi motivada por sua baixa visibilidade política e falas controversas, como a revelação de que interrompia agendas para atender Janja e ignorava chamados de outros ministros, como Alexandre Padilha e Márcio Macêdo.
Márcia Lopes, cotada para o cargo desde abril, é assistente social, ex-ministra do Desenvolvimento Social (2010) e irmã de Gilberto Carvalho, ex-secretário-geral da Presidência. Sua nomeação é vista como uma tentativa de fortalecer a pasta com uma figura experiente e alinhada ao PT, em um ano crucial para a articulação política pré-eleitoral.
Reações e Impactos A gestão de Cida Gonçalves, iniciada em janeiro de 2023, foi marcada por promessas de fortalecimento de políticas contra a violência de gênero, como a retomada do Ligue 180 e da Casa da Mulher Brasileira, além da implementação da Lei da Igualdade Salarial. No entanto, as denúncias de assédio e a alta rotatividade no ministério – com 59 demissões registradas no Diário Oficial da União – ofuscaram esses esforços.
Posts no X refletem a polarização em torno do caso, com críticos apontando a demissão como prova de falhas na gestão Lula e apoiadores destacando a resposta do governo às denúncias. O Ministério das Mulheres informou que realizou capacitações em 2024 para prevenir assédio, mas afirmou que nenhuma queixa foi formalizada em seus canais internos de corregedoria.
A substituição de Cida por Márcia Lopes será oficializada antes da viagem de Lula à Rússia, entre 8 e 10 de maio, para as comemorações dos 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial. O caso expõe desafios do governo em lidar com acusações de condutas indevidas em pastas sensíveis, sendo o segundo ministro demitido por denúncias de assédio em menos de um ano, após Silvio Almeida (Direitos Humanos) em setembro de 2024.
Fontes:
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Brasil de Fato, 3 de maio de 2025
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CNN Brasil, 4 de maio de 2025
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O Estado de S. Paulo, 20 de janeiro de 2025
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Poder360, 21 de outubro de 2024
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Posts no X, 20 de janeiro a 4 de maio de 2025
Nota: As denúncias de assédio moral e racismo permanecem sob análise da Comissão de Ética Pública, apesar do arquivamento inicial. Novas investigações podem trazer desenvolvimentos adicionais.