Com o encerramento do acordo entre Rússia e Ucrânia, que permitia a exportação de grãos ucranianos pelo Mar Negro, o mercado mundial vive um período de tensão pelos possíveis impactos globais nos preços dos alimentos e ainda sob a ótica do abastecimento de países pobres, como alguns da África, que dependem da importação dos grãos da Ucrânia.
Em fevereiro de 2022, com o início da guerra, a Rússia bloqueou a rota marítima de exportação da Ucrânia fazendo com que cerca de 20 milhões de toneladas de grãos ficassem presos em portos do Mar Negro. Naquele momento, a combinação de baixa oferta e alta demanda causou um aumento mundial nos preços dos alimentos; o que pode voltar a acontecer.
Quando o tratado foi assinado e os embarques de grãos foram retomados, os preços mundiais dos alimentos caíram cerca de 20%, de acordo com a agência da ONU para Agricultura e Alimentação (FAO).
Reflexos
O inverso já vem ocorrendo, após o anúncio do fim do pacto. Nesta semana, houve uma considerável elevação em alguns produtos exportados pela Ucrânia a exemplo do trigo que, na Bolsa de Chicago, os vencimentos mais negociados subiam de 6,50 a 9,75 centavos de dólar por bushel, com o setembro sendo cotado a US$ 7,37 e o março/24 a US$ 7,68.
Para Hélio Sirimarco, vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), a expectativa é, realmente, de aumento dos preços. “Os preços internacionais, especialmente do trigo, vão ter problemas. Se pegarmos informações da Bolsa de Chicago, veremos que a maior cotação do valor do trigo foi atingida em outubro de 2022. De lá pra cá, o produto registrou quedas consecutivas até 31 de maio, quando os rumores da não renovação do acordo entre Rússia e Ucrânia já estavam a todo vapor e os preços começaram a reagir”.
“Como a confirmação do rompimento, os preços estão ensaiando a retomada do alto patamar atingido de 2022. Evidentemente, que se voltar para os níveis mais elevados do ano passado, vai impactar bastante no custo de importação do Brasil. Temos uma grande produção de trigo, mas existe uma necessidade de importação, devido a qualidade superior do trigo estrangeiro”, enfatizou o vice-presidente da SNA.
África
O diretor regional de emergência para a África Oriental no IRC, Shashwat Saraf, falou à CNN que pediu, em um comunicado, que as partes envolvidas fizessem uma extensão do acordo a longo prazo para criar “previsibilidade e estabilidade” para a região, que perdeu grandes quantidades de colheitas m decorrência da seca e das inundações.
“Com aproximadamente 80% dos grãos da África Oriental sendo exportados da Rússia e da Ucrânia, mais de 50 milhões de pessoas na África Oriental estão passando fome e os preços dos alimentos dispararam quase 40% este ano”, reforçou Saraf.
Rotas alternativas para a Ucrânia
Uma alternativa cogitada pela Associação Ucraniana de Grãos é fazer o transporte deste produto por meio dos portos do rio Danúbio, porém teriam que reduzir a quantidade de grãos exportados e os custos também seriam maiores.
Outra opção ventilada pela União Europeia (UE) é distribuir os grãos ucranianos que não podem ser embarcados pelo Mar Negro, transportando-os via fronteira da Ucrânia com a Polônia e levado para portos no Mar Báltico ou por trem e barcaça até o porto romeno de Constanta.