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Brasília, 9 de maio de 2025 – Os Correios encerraram 2024 com um prejuízo líquido de R$ 2,6 bilhões, o maior déficit desde 2016, conforme relatório financeiro consolidado da estatal. O resultado representa um salto de 336% em relação ao prejuízo de R$ 597 milhões registrado em 2023 e consolida o terceiro ano consecutivo de perdas sob a gestão do presidente Fabiano Silva dos Santos, indicado pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A “taxa das blusinhas” e a herança de gestões passadas são apontadas como principais causas, mas especialistas questionam a eficiência administrativa da estatal.
“Taxa das Blusinhas” e Queda nas Importações
O principal fator para o rombo, segundo os Correios, foi a implementação do Programa Remessa Conforme, que acabou com a isenção de impostos para compras internacionais de até US$ 50 a partir de agosto de 2024. A medida, apelidada de “taxa das blusinhas”, impôs uma alíquota de 20% sobre importações abaixo de US$ 50 e 60% acima desse valor, além do ICMS estadual de 20%. Como resultado, a estatal perdeu R$ 2,2 bilhões em receitas no segmento de entregas internacionais, com uma queda de 37% no faturamento esperado, de R$ 5,9 bilhões para R$ 3,7 bilhões.
“A ‘taxa das blusinhas’ trouxe transparência, mas reduziu o fluxo de importações e quebrou a exclusividade dos Correios, que antes dominavam 98% desse mercado. Em janeiro de 2025, nossa participação caiu para 30%”, afirmou Fabiano Silva em evento na Câmara dos Deputados. A abertura do setor para concorrentes privados, como transportadoras internacionais, também agravou a perda de mercado, com a estatal registrando uma redução de mais de 60% na participação em entregas de e-commerce estrangeiro, especialmente de plataformas como AliExpress e Shein.
Outros Fatores: Postalis, Queda Postal e Investimentos
Além da “taxa das blusinhas”, o prejuízo foi impulsionado por fatores estruturais e decisões administrativas. A estatal desembolsou R$ 7,6 bilhões para equacionar o déficit do Postalis, fundo de pensão dos funcionários, que sofre com má gestão desde 2008 e representa uma dívida significativa. A queda estrutural no volume de correspondências, devido à digitalização, também impactou as receitas, enquanto o pagamento de R$ 1,3 bilhão em contingências trabalhistas e precatórios de anos anteriores pressionou o caixa.
A gestão atual investiu R$ 2 bilhões entre 2023 e 2024 em infraestrutura, frota e tecnologia, mas críticos apontam que a falta de planejamento estratégico agravou a crise. “Os Correios pararam de investir durante o Programa Nacional de Desestatização (PND) no governo Bolsonaro, mas a atual administração não conseguiu reverter a perda de competitividade”, afirmou a economista Carla Beni, da FGV.
Comparação com Anos Anteriores
O prejuízo de R$ 2,6 bilhões em 2024 é inferior ao rombo recorde de R$ 3,2 bilhões inicialmente reportado, mas ainda supera o déficit de R$ 2,1 bilhões de 2015, durante o governo Dilma Rousseff. Durante o governo Jair Bolsonaro (2019-2022), a estatal registrou lucros em três dos quatro anos (2019, 2020 e 2021), mas fechou 2022 com prejuízo de R$ 768 milhões, agravado por manobras contábeis questionadas pelo TCU. A gestão petista atribui o rombo atual à “herança” do PND, que teria desestruturado a estatal, mas opositores, como o senador Márcio Bittar (União Brasil-AC), apontam má gestão e pedem uma CPI para investigar.
Reações e Críticas
O prejuízo reacendeu o debate sobre a privatização dos Correios, arquivada por Lula em 2023. “A estatal é um exemplo de ineficiência administrativa. O governo mantém um modelo ultrapassado enquanto o mercado de logística evolui”, criticou o senador Marcos Rogério (PL-RO) no X. Já a Carta Capital defendeu que o rombo é uma “herança de Bolsonaro” e que a privatização não é a solução. Usuários no X, como
@leiatheinvestor
, também apontaram problemas como o calote de R$ 400 milhões no plano Postal Saúde, que levou hospitais a suspenderem atendimento a funcionários.
A secretária de Coordenação e Governança das Empresas Estatais, Elisa Leonel, classificou a situação dos Correios como “a mais complicada” entre as estatais, que acumularam déficit de R$ 6,3 bilhões em 2024, sendo 50% atribuído à estatal postal. O governo descarta aportes do Tesouro e busca empréstimos, como os 700 milhões de euros do Banco do Brics, para financiar projetos de descarbonização e modernização.
Perspectivas para 2025
Para reverter o prejuízo, os Correios apostam em um plano de recuperação com três pilares: ampliar serviços no e-commerce, tornar-se fornecedor preferencial do setor público e reclamar créditos tributários. A estatal também planeja lançar um banco digital, marketplace e serviços de logística para saúde, mas o prejuízo de R$ 424 milhões em janeiro de 2025 indica que a recuperação será desafiadora.
“A deterioração das contas continua. Sem uma estratégia clara, o risco de insolvência é real”, alertou Fabio Gallo Garcia, professor da FGV-SP. A estatal nega demissões ou rompimento de contratos, mas adotou um teto de gastos e suspendeu contratações após o rombo de 2024. Um concurso público para 3.511 vagas, com salários de R$ 2.429,26 a R$ 6.872,48, foi mantido, apesar das críticas.
Impacto no Consumidor
O prejuízo tem gerado reflexos na qualidade do serviço. Consumidores relatam atrasos em entregas e aumento de tarifas, enquanto pequenos lojistas que dependem dos Correios enfrentam dificuldades. “Comprei um cabo de fone por R$ 36, mas paguei R$ 38 em taxas. Muitos estão parando de importar por causa disso”, reclamou um usuário no X.
O Ministério das Comunicações criou um grupo de trabalho para revisar a Lei Postal de 1978, mas a proposta ainda está na Casa Civil. Enquanto isso, a estatal enfrenta pressão de uma CPI no Senado e investigações do Ministério Público Federal (MPF) por possíveis irregularidades.
O Futuro dos Correios
Com um déficit que representa 50% do rombo total das estatais federais em 2024, os Correios estão no centro do debate sobre a gestão de empresas públicas. O governo Lula aposta na modernização, mas o prejuízo recorde e a perda de mercado levantam dúvidas sobre a sustentabilidade da estatal. Para analistas, a solução exige equilíbrio entre inovação, corte de despesas e reposicionamento no mercado de logística, onde a concorrência privada cresce rapidamente.
Nota: Os Correios afirmam que estão comprometidos com a recuperação financeira e negam risco iminente de insolvência, destacando investimentos estratégicos. O balanço oficial de 2024 está disponível no site da estatal. Acompanhe as atualizações sobre a CPI e as investigações para entender os próximos passos dessa crise.
GROK/X