A produção de trigo brasileiro tem batido recordes a ponto de dobrar a área cultivada e se criar a expectativa de o País vir a se tornar exportador do produto, contrariando seu papel histórico de importador do grão.
De acordo com a Sindustrigo, nos primeiros cinco meses de 2022 o Brasil exportou mais que o dobro de todo o volume de 2021. Em 2021, o Brasil produziu 7,7 milhões de toneladas do grão precisando comprar apenas 5 milhões de toneladas para atender a demanda interna de aproximadamente 12,7 milhões de toneladas de trigo.
No primeiro trimestre de 2022, o Brasil exportou cerca de 2,5 milhões de toneladas de trigo, um número recorde, segundo a Reuters. Apenas em março de 2022, foram 800 mil toneladas exportadas, um crescimento de 1.745% em comparação com o mesmo mês de 2021, quando foram embarcadas 45,3 mil toneladas.
Na opinião do analista da Cogo Inteligência em Agronegócio, Carlos Cogo, o preço e a liquidez do cereal vão incentivar o produtor brasileiro a produzir ainda mais visando a exportação. Ele explica que o recorde de exportação de março deriva de bons contratos fechados no ano passado. “O que estamos vendo é o cumprimento destes contratos. E o produtor vai continuar exportando”, disse Cogo em entrevista ao Canal Rural.
Tropicalização
Em entrevista à revista Veja, o presidente da Embrapa, Celso Moretti, responsabilizou a ascensão do protagonismo brasileiro ao trabalho de tropicalização, iniciado em 2012 pela instituição, levando o trigo do Sul do Brasil para o Cerrado.
“Começamos a ver que o trigo se desenvolve muito bem em Minas Gerais e Goiás, e inclusive no entorno do Distrito Federal, que tem 65% de seu território como área rural”, disse.
“No ano passado, um dos bons produtores da região, de Cristalina, em Goiás, bateu o recorde mundial de produção de trigo, com 9.630 kg/hectare. Com a tecnologia, nós mostramos para o mundo que podemos produzir trigo na região tropical, sem desmatar um milímetro quadrado de área verde”, destacou o executivo.
Crescimento
“Só com o Cerrado nós conseguiremos dobrar a área de trigo do Brasil. Mais recentemente nós colhemos trigo em Roraima, uma região que está acima da Linha do Equador. Foi algo completamente inesperado. Nós colhemos trigo de excelente qualidade e conseguimos uma média de 3.000 kg por hectare”.
“A média do Brasil é de 2.748 kg. Portanto, em uma década, o Brasil pode sair de importador para exportador de trigo”, afirmou Moretti. Mesmo com a tropicalização e o avanço por outras regiões do Brasil, o Rio Grande do Sul e Paraná ainda concentram 90% da produção nacional do trigo, com uma produtividade média de 2.500 kg por hectare.
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Apesar dessa colheita de bons resultados, o preço do pãozinho francês, que sempre foi um índice prático do custo de vida no Brasil, ainda deve oscilar. É que o trigo produzido no Brasil não costuma ser usado na fabricação de pães e massas.
Em solo brasileiro é plantado o chamado hard, utilizado mais na alimentação animal, e o para consumo humano é o soft, que é mais produzido na Argentina, Canadá e Rússia. Segundo o presidente da Coopavel, Dilvo Grolli, porém, essa percepção de que o trigo brasileiro não se iguala ao argentino, é um mito a ser combatido baseado “em informações dos anos 80”.
