Leishmaniose visceral apresenta lacuna em Teodoro Sampaio

Estudo constata esse dado na relação cães e pessoas infectadas, surgindo nova hipótese para outra pesquisa

Questões de saúde, econômica e geográfica motivaram estudo sobre a leishmaniose visceral em Teodoro Sampaio, o maior e mais populoso município do extremo oeste paulista, localizado no Pontal do Paranapanema. A principal constatação foi a existência de lacuna na relação entre cães e pessoas infectadas.

 

Pesquisa realizada pela enfermeira Regiane Soares Santana, utilizando dados consolidados do setor de saúde pública de 2010 a 2016, apurou a existência de 375 casos de leishmaniose visceral canina e dois em humanos, sendo que no ano passado teve um outro caso com gente.

Na saúde, a leishmaniose é uma doença negligenciada mundialmente, o que não é diferente em Teodoro. Na área econômica, 1/3 da população de 23 mil habitantes é pobre. Na geografia, tem o aspecto urbano e as vias de transporte terrestre que favorecem a dispersão do mosquito-palha, o vetor da doença.

Teodoro Sampaio é o maior município em extensão territorial na área próxima ao encontro dos rios Paraná e Paranapanema e o 8º do estado com 1155 km², mas já foi o 1º com 2879 km², antes da emancipação de Euclides da Cunha Paulista e Rosana em 1990; portanto, há 39 anos.

Sua localização é próxima dos estados do Paraná e do Mato Grosso do Sul, com interligação por vias fluviais e terrestres. No estado de São Paulo, além das estradas vicinais, a cidade é servida pelas rodovias Arlindo Béttio e General Euclides de Oliveira Figueiredo.

São condições que favorecem a dispersão do vetor ou o trânsito de cães hospedeiros quando as pessoas mudam de cidade ou levam seus animais nas viagens. Como se não bastasse, tem ainda as condições favoráveis à proliferação do mosquito-palha: as margens dos rios e três grandes lagos de reservatórios das usinas hidrelétricas.

Junto às usinas de Rosana, Taquaruçu e Primavera existem as áreas de matas formadas para compensação ambiental, que favorecem a reprodução do mosquito, já que as larvas se desenvolvem no solo úmido e em matéria orgânica. Nessas condições tem ainda o Parque Estadual do Morro do Diabo.

Na zona urbana são várias áreas desabitadas e depósito de lixo clandestino em terrenos baldios também contribui com a proliferação. A presença do mosquito-palha é constante e são muitos os casos da leishmaniose tegumentar, doença que acomete as pessoas e provoca manchas na pele.

Porém, a leishmaniose visceral – que afeta fígado, baço e medula óssea – é bem mais rara, ainda que cães em números significativos sejam portadores dessa doença. Por essas questões, envolvidos em pesquisas sobre leishmaniose no Pontal levantaram uma hipótese sobre a lacuna na relação entre cães e pessoas infectadas.

O orientador do estudo em Teodoro, o médico infectologista Dr. Luiz Euribel Prestes Carneiro, revela que a hipótese é de que a pessoa infectada com a leishmaniose tegumentar pode ser imune à leishmaniose visceral; ou seja: uma doença pode ser o fator protetor da outra.

Essa hipótese será tratada em outra pesquisa a ser realizada junto ao Programa de Mestrado em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional que oferta mestrado e doutorado na Unoeste, conforme disse Carneiro ao final da defesa da dissertação de Regiane na manhã de sexta-feira (7), aprovada para receber o título de mestre.

O trabalho foi elogiado pelos examinadores Dr. Osias Rangel, da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen) de Campinas, e Dr. Edilson Ferreira Flores, do campus da Unesp em Presidente Prudente. Também participou, por Skype, o Dr. Elivelton da Silva Fonseca.

Como um dos pesquisadores brasileiros envolvidos em mapeamento de doenças negligenciadas, feito pela agência norte-americana de Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (Nasa), Fonseca também tem Teodoro Sampaio como foco e atuou como corientador da pesquisa feita por Regiane.

Os dados consolidados que foram utilizados no estudo foram obtidos junto à Vigilância Sanitária de Teodoro Sampaio, Laboratório Bioclínico de Análises Clínicas de Teodoro Sampaio, regionais do Instituto Adolfo Lutz e Superintendência de Controle de Endemias (Sucen) em Prudente, além da Unoeste.

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