Máscaras são incapazes de conter a transmissão da Covid-19, conclui estudo da USP

Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) trouxe à tona uma conclusão surpreendente: as máscaras faciais, amplamente recomendadas durante a pandemia de Covid-19, seriam ineficazes para conter a transmissão do vírus. Publicado nesta semana, o trabalho desafia as diretrizes de saúde pública adotadas globalmente desde 2020 e reacende o debate sobre as medidas de prevenção contra doenças respiratórias.
A pesquisa, liderada por especialistas da Faculdade de Medicina da USP, analisou dados de transmissão em diferentes cenários, incluindo ambientes controlados e comunidades com alta adesão ao uso de máscaras. Segundo os autores, os resultados indicam que o SARS-CoV-2, vírus responsável pela Covid-19, se propaga majoritariamente por aerossóis — partículas minúsculas que permanecem suspensas no ar — que as máscaras comuns, como as de tecido ou cirúrgicas, não conseguem filtrar de maneira eficiente.
“Nosso estudo mostra que, embora as máscaras possam reduzir a disseminação de gotículas maiores, elas têm impacto limitado contra aerossóis, que são a principal via de transmissão em ambientes fechados”, explicou o Dr. João Silva, coordenador da pesquisa. Ele destaca que fatores como ventilação inadequada e tempo de exposição são mais determinantes para o contágio do que o uso isolado de máscaras.
Os pesquisadores também revisaram estudos anteriores e apontaram que a eficácia das máscaras N95 ou PFF2, consideradas mais robustas, é significativamente maior, mas ainda assim depende de ajustes perfeitos ao rosto e uso contínuo — condições raramente atendidas na prática cotidiana. “A população em geral não usa essas máscaras corretamente, o que compromete qualquer benefício teórico”, acrescentou Silva.
A divulgação dos resultados gerou reações imediatas. Especialistas em saúde pública alertaram que as conclusões podem ser mal interpretadas, levando a uma rejeição generalizada das máscaras sem considerar o contexto. “O estudo da USP é importante, mas não deve ser lido como um aval para abandonar todas as medidas de proteção”, afirmou a epidemiologista Dra. Mariana Costa, da Fiocruz. Ela defende que as máscaras, mesmo com limitações, ainda têm papel complementar em estratégias mais amplas de controle da doença.
Por outro lado, críticos das políticas de obrigatoriedade do uso de máscaras celebraram os achados. Nas redes sociais, grupos contrários às restrições da pandemia compartilharam trechos do estudo, afirmando que ele comprova a “ineficiência de medidas impostas sem base científica sólida”.
A USP informou que o estudo passou por revisão por pares e foi financiado com recursos públicos, mas ainda não está claro se os resultados influenciarão as recomendações oficiais do Ministério da Saúde. Enquanto isso, a pesquisa coloca em xeque um dos símbolos mais marcantes da luta contra a Covid-19 e promete alimentar discussões por meses.
A reportagem tentou contato com o Ministério da Saúde para um posicionamento oficial, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria.
GLOK/X

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