OPINIÃO: VERDADES E MENTIRAS SOBRE A TECNOLOGIA DOS CARROS FLEX

No mercado há 15 anos, os veículos que podem rodar com gasolina e etanol ainda geram dúvidas

A tecnologia flex (ou bicombustível), que permite aos motores dos automóveis utilizarem gasolina ou álcool (ou a mistura de ambos), estreou em nosso mercado em 2003, há exatos 15 anos.

O modelo que inaugurou essa nova fase na indústria automotiva brasileira foi o Volkswagen Gol 1.6 TotalFlex. Desde então, o mercado tem criado lendas, mitos, lorotas e conversas fiadas sobre como os donos de carros com essa tecnologia deveriam cuidar deles.

Hoje, cerca de 90% dos automóveis comercializados com motores do ciclo Otto dispõe da tecnologia. Por isso, ainda vale a pena alertar os donos sobre bobagens que ainda circulam sobre o tema.

VW Gol 1.0 (Foto: Fabio Aro)

O primeiro deles diz respeito ao “vício” que os carros flex adquirem: especialistas de final de semana afirmam que, se você utiliza apenas um tipo de combustível, seja etanol ou gasolina, o motor fica viciado. Quando você tenta utilizar o outro combustível, o motor não aceita.

Uma grande bobagem, motor não é gente e não fica viciado em coisa alguma. Quem gerencia o combustível que está sendo queimado é o sistema eletrônico de comando da injeção, e esse, tenha a certeza, não se vicia. Você pode utilizar, por exemplo, álcool durante 10 anos e passar a utilizar gasolina que o sistema detectará o combustível e fará as devidas correções.

Ainda, para que não exista o tal vício, recomendam que, pelo menos uma vez por mês, você mude o combustível. Bobagem também, pois sempre que você trocar de combustível, o sistema eletrônico corrigirá o ponto de ignição e a quantidade de injeção.

Outra conversa que ouvi é a de que você deve deixar o tanque praticamente esgotado para trocar o combustível. Dizem que eles não se misturam e que poderiam trazer problemas futuros ao motor. Conversa fiada. Os combustíveis etanol e gasolina são totalmente miscíveis entre si e o sistema eletrônico de injeção, através da sonda lambda existente no escapamento, sabe exatamente qual é a mistura que existe no tanque, fazendo as devidas correções na ignição e na injeção dos bicos. E tudo isso sem poluir o ar e tirando do motor a melhor performance.

Nissan testa veículo elétrico movido a célula de combustível de bioetanol no Brasil (Foto: Divulgação)

Ouvi também alguns “experts” dizerem que no carro flex, o primeiro abastecimento deve ser feito sempre com gasolina. Essa, não faço a mínima ideia para que serviria, mas para variar, é outra grande mentira. O primeiro abastecimento pode ser feito com qualquer um dos dois combustíveis, sem problema algum. Essa mentira simplesmente não tem fundamento nem utilidade.

Outra coisa que se fala é que, quando se utiliza apenas etanol como combustível, a troca de óleo pode ser alongada, pois o combustível derivado da cana contamina menos o lubrificante. Essa conversa tem até um fundo de verdade, mas é difícil sabermos quanto um lubrificante está contaminado. Por isso, é importante seguirmos as recomendações do fabricante do veículo no manual do proprietário no que diz respeito ao tempo e quilometragem que o lubrificante deve ser trocado e, não menos importante, sua especificação técnica.

A pergunta que não quer calar: qual o combustível mais vantajoso na hora do abastecimento? Uma continha fácil, que não é exata, mas serve de referência é a de você multiplicar o valor da gasolina por 0.7. Se o resultado dessa conta for igual ao valor do álcool nesse mesmo posto, você pode utilizar qualquer um dos dois que para seu bolso não fará diferença.

Yamaha Fazer 250 flex (Foto: Yamaha)

Vale lembrar que o etanol melhora o desempenho e a gasolina proporciona uma autonomia maior. Se o resultado dessa multiplicação do valor da gasolina por 0.7 for inferior ao preço do etanol na bomba, nesse caso vale mais a pena o combustível da cana. No entanto, se o resultado for superior ao preço do álcool, nesse caso, abasteça com gasolina, pois será melhor ao seu bolso.

Vamos a um exemplo prático? Se você, por exemplo, para em um posto que a gasolina custa R$ 4 o litro e você multiplica por 0.7, o resultado seria 2,8. Se nesse mesmo posto o etanol custar menos de R$ 2,8, utilize o álcool. Em caso contrário, se o etanol custar mais de R$ 2,8, escolha a gasolina que a vantagem ficará para o seu bolso.

É importante lembrar que a vantagem do carro flex está na possibilidade de o proprietário escolher o combustível que lhe convenha mais financeiramente.

A potência e o torque máximo ficam maiores quando se abastece com etanol. Para a gasolina, a grande vantagem fica no menor consumo e, consequentemente, maior autonomia.

É bom ficar claro também que um motor flex nunca obtém a melhor performance ou consumo tanto na gasolina quanto no álcool. Como é um motor concebido na média, os motores flex não oferecem os menores resultados de potência e consumo que conseguiríamos obter com um motor alimentado unicamente com gasolina ou um outro concebido unicamente para utilizar etanol.

Mas a vantagem do flex, como o próprio nome diz, está na flexibilidade de se utilizar o combustível que estiver na bomba e esse, de fato, é um conforto para o consumidor, principalmente quando há crises no fornecimento de um dos combustíveis. Você nunca fica na mão.

Por Douglas Mendonça/Auto Esporte

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