Testamos a versão dita mais barata do utilitário, com câmbio automático e motor turbo
Quando a Volkswagen anunciou que finalmente iria entrar no segmento que mais cresce no Brasil — e no mundo –, o de SUV compacto, o frisson foi grande. A expectativa só cresceu com os anúncios sequentes, principalmente com a informação que ele contaria com motores turbinados, e depois com a revelação do visual, pouco antes do Salão do Automóvel de 2018.
Com o sucesso recente de Polo e Virtus, o esperado era que o T-Cross repetisse a receita. No entanto, a Volks jogou um balde de água fria no mercado quando lançou o utilitário em abril, principalmente por causa dos preços, que chegam a surreais R$ 128.630.
Para a opção de entrada, a 200 TSI, a montadora alemã também errou a mão. O SUV começa em impressionantes R$ 84.990, com câmbio manual. Testamos a opção com câmbio automático, que pula para R$ 94.490, mas com os pacotes extras, pode chegar a surreais R$ 97.970, dependendo da pintura.
Agora, fica a pergunta. Por R$ 94 mil o T-Cross é completão, certo? Errado! Pelo contrário, para se ter uma ideia, câmera de ré e retrovisor com ajuste elétrico só com o pacote Interactive II, que eleva o preço do SUV em R$ 1.590, e ainda acrescenta sensor de estacionamento dianteiro.
Deveria ser melhor
De série, ele vem com ar-condicionado — mas que é manual e demora muito para resfriar a cabine, principalmente em dias quentes, mas conta com saída para o banco traseiro –, volante com ajustes de altura e profundidade, lanternas traseiras em LED, piloto automático. Isso sem falar em vidros, travas, direção elétrica e velocímetro digital.
A central multimídia é um caso à parte. O sistema é mais simples, principalmente comparado com o da versão topo de linha, mas funciona bem. A tela é de 6,5 polegadas e ela ainda conta com conectividade com smartphone e um dos poucos diferenciais do SUV: cinco portas USB.
Pelo menos na parte da segurança, ele condiz com o alto valor pedido. Ele vem com seis airbags, controles de tração e estabilidade, assistente de partida em rampa, Isofix e Top theter para fixação de cadeirinhas infantis e sensores de estacionamento traseiro e crepuscular.
A lista de equipamentos não é singela, mas fica decepcionante por causa do preço. Rivais nessa faixa, contam com chave presencial, central multimídia melhor, teto solar, tv digital, luz de circulação diurna em LED, bancos em couro, ar-condicionado automático, entre outros. Tudo isso deveria estar presente em um veículo de quase R$ 100 mil.
Foco na economia
O alento do T-Cross é a utilização apenas de motores turbo. Com isso, a mecânica do modelo é bem mais moderna que a maioria dos concorrentes. A versão de entrada utiliza o 1.0 de 128 cavalos na gasolina e 116 cavalos no etanol, com torque de 20,4kgfm.
Mesmo com a motorização turbo, o foco do utilitário não é a esportividade, longe disso, mas sim o baixo consumo de combustível. Nisso, o T-Cross foi muito bem. Durante o teste ele fez, com etanol, média de 11km/l, número muito bom. Com gasolina, é possível que ele passe dos 15km/l.
Agora, se você acha que o motor turbo é esperto, não espere por isso, pelo contrário. As respostas do acelerador são lentas. É certo que câmbios automáticos contam com delay, mas o do T-Cross é exagerado. Ao pisar no acelerador, o carro é lento para responder, essa demora atrapalha em diversas manobras, como ultrapassagens, saídas e retomadas de velocidade.
Mesmo se o motorista pisar fundo no acelerador, o T-Cross não responde como deveria. Nisso, ele parece ser um veículo com câmbio CVT, onde a aceleração é lenta e contínua. A tocada fica um pouco melhor ao ativar o modo Sport do câmbio. Mas como o motor passa a trabalhar em um giro mais alto, o consumo tende a aumentar.
A suspensão é interessante. Como em outros modelos da marca, a do T-Cross é mais firme, o que garante uma condução mais segura, pois o veículo fica sempre “na mão”. O sistema trabalha bem, mesmo em nossas vias repletas de buracos e desníveis.
Espaçoso e seco
Por dentro, o T-Cross de entrada tem dois pontos bem distintos. Um bem positivo e outro bastante negativo. Vamos começar pelo lado bom. O espaço interno é um dos pontos fortes do utilitário, o que mostra o lado familiar do modelo, que consegue levar até cinco pessoas com um bom conforto, isso porque o túnel central não atrapalha muito.
O lado ruim é a qualidade dos materiais utilizados no acabamento. Um veículo de quase R$ 100 mil não pode ter o material de um modelo de R$ 50 mil. O excesso de plástico duro é inacreditável. Apenas a moldura da tela da central multimídia e do ar-condicionado contam com detalhes em black piano, no mais, é só plástico duro e seco.
Pelo menos, os encaixes das peças são bem feitos. Não há rebarbas em local algum. Outro ponto positivo é o espaço no porta-malas, com 420 litros — dentro da média do segmento –, é possível levar bastante bagagem, sem preocupação.
A opinião do DP
O T-Cross tinha tudo para ser um SUV de destaque. Mas o exagero no preço faz ele se perder entre as outras opções no mercado. O simples fato do conjunto mecânico ser turbinado não faz dele uma boa aposta, principalmente por causa da lista de equipamentos, que deveria ser bem melhor.
Ainda por sinal, o motor deixa a desejar na hora da direção, com respostas lentas e demoradas. Um dos poucos pontos positivos é o consumo e o espaço interno. O material do acabamento é simplesmente pavoroso e não condiz com um modelo de quase R$ 100 mil. Não vale a compra! Nota 4.
Motor: 1.0 turbo
Potência máxima: 128cv
Torque máximo: 20,4kgfm
Transmissão: automática de 6 velocidades
Direção: elétrica
Suspensão: independente na dianteira e eixo de torção na traseira
Porta-malas: 420 litros
Dimensões (A x L x C x EE): 1.558 x 1.760 x 4.199 x 2.651mm
Preço: a partir de R$ 94.490
Diário do Poder