Alto ritmo de contágio, recordes nas mortes diárias, sistemas de saúde colapsando e lenta vacinação dão perspectiva pessimista diante da triste marca. Governadores e prefeitos anunciam medidas mais duras de restrição, mas falta direcionamento nacional para mudar números.
300.000 vidas perdidas. Trezentas mil. Este é o tamanho da tragédia brasileira em um ano de pandemia da Covid-19. Tragédia que, infelizmente, está longe de terminar e dá poucos sinais de que vai melhorar. O número de 300 mil foi atingido mesmo com mudança no sistema de notificação do Ministério da Saúde que causou atrasos no registros de mortes nesta quarta.
O país atinge nesta quarta mais uma marca assombrosa um dia depois de registrar, pela primeira vez, mais de três mil mortes em apenas 24 horas. E num momento de colapso nos hospitais, tanto públicos quanto privados. UTIs superlotadas desafiam profissionais de saúde já esgotados.
Com dados novos de 10 estados (AL, BA, GO, MG, MS, MT, PR, RN, SP e TO) desde a véspera, o país soma agora 300.015 óbitos. Casos confirmados de Covid-19 são 12.183.338.
Os níveis de contágio seguem elevados, e governadores e prefeitos tentam conter o avanço do vírus com medidas mais duras de restrição. Ainda assim, o Brasil não chegou a viver nenhum tipo de lockdown completo, como ocorreu em outros países.
Sem direcionamento nacional efetivo para lidar com a pandemia, medidas de isolamento seguem sendo desrespeitadas em larga escala.
Esses números poderiam ser ainda maiores não fosse uma mudança no sistema de notificação de Ministério da Saúde – que as secretarias estaduais de saúdes dizem que será abandonada – que passou a exigir mais dados sobre cada vítima da doença no país.
Essa mudança reduziu o número de mortes informadas nesta quarta. São Paulo, por exemplo, notificou 281 mortes nesta quarta – a média até então, era de 532 mortes por dia. Na terça, foram 1.021. Mato Grosso do Sul informou 20 mortes, ante uma média diária de de 29.
Os dados abaixo indicam o quão preocupante é o cenário da pandemia no país e podem ajudar a entender a necessidade de medidas urgentes:
- Os índices de ocupação de leitos de UTI no Brasil têm ‘quadro extremamente crítico’. Com exceção do Amazonas e de Roraima, todos os demais estados estão na classificação de “alerta crítico” de lotação, segundo a Fiocruz.
- A ameaça de falta de oxigênio hospitalar preocupa autoridades e a população. Seis estados são os mais críticos para falta de oxigênio, segundo a Procuradoria-Geral da República: AC, RO, MT, AP, CE e RN. Outros sete estão em estágio de atenção: PA, BA, MG, SP, PR, SC e RS.
- Entidades da saúde estão em alerta para uma potencial crise de desabastecimento dos chamados ‘kits intubação’. Medicamentos estão em baixo estoque, e a alta no preço deles chega a 1.700%.
- O ritmo de vacinação no país está baixo, segundo especialistas, e também preocupa. Pela 6ª vez, o governo reduziu a previsão de doses das vacinas a serem disponibilizadas.
O ritmo de vacinação ainda lento, as mudanças no calendário de imunização e para a chegada de novas doses, além da escassez da vacina em todo mundo, dificultam a perspectiva de controle da doença.
O Brasil é o país com o maior número diário de mortes por Covid-19 desde 5 de março, quando ultrapassou os Estados Unidos. Entre as cinco nações com mais óbitos, o Brasil sempre teve uma média de mortes próxima à de México, Índia e Reino Unido.
Desde janeiro, quando o presidente norte-americano Joe Biden tomou posse e intensificou a política de vacinação, os EUA reduziram drasticamente o número diário de mortes. Enquanto isso, o Brasil passou por considerável piora nos números da pandemia. Hoje, o país tem mais mortes do que todos os 27 países da União Europeia somados.
Infográfico mostra média móvel de mortes em Brasil, Estados Unidos, México, Índia e Reino Unido — Foto: Amanda Paes/Arte G1