RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Apesar de o Carnaval de rua ter sido cancelado no Rio, o desfile das escolas de samba na Marquês de Sapucaí e os bailes de Carnaval estão mantidos por enquanto. Mas especialistas dizem que é arriscado e prematuro manter esses eventos enquanto a capital assiste a um aumento de casos de Covid-19, fenômeno impulsionado pela variante ômicron, cepa que já é dominante no município
“Eu acho que toda e qualquer aglomeração que seja feita nas próximas semanas será motivo de um espalhamento ainda maior da variante ômicron”, diz o infectologista Roberto Medronho, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e membro do comitê científico do estado.
Medronho foi um dos membros do colegiado que, na última sexta (7), desaconselhou a realização de eventos que gerem aglomeração, inclusive os do Carnaval. Segundo ele, se os festejos forem mantidos, poderá haver um aumento no número de mortes.
“A discussão que eu proponho é ética”, afirma ele. “Estamos dispostos a pagar para ter uma festa que, sim, gira a economia e faz bem para a saúde mental, mas que pode gerar óbitos?”
Embora a quantidade de óbitos na cidade continue em um patamar baixo, a taxa de casos positivos e a de internações têm aumentado. Em quatro dias, o total de internações na rede pública cresceu três vezes. Na sexta (7), havia 47 pessoas internadas, número que saltou para 141 nesta terça (11).
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, por volta de 93% desses pacientes não têm o esquema vacinal completo e 43% não tomaram nenhuma dose da vacina. Já 44% dos testes realizados na cidade deram resultado positivo para a Covid. Em meados de dezembro, esse percentual estava em 1%.
O prefeito Eduardo Paes (PSD) diz que os desfiles no Sambódromo podem acontecer, porque seria possível promover o controle sanitário no ambiente.
Medronho diz, porém, que existem riscos de transmissão mesmo com o protocolo sanitário. “Os indivíduos vacinados podem se infectar apesar de vacinados. E, mesmo que façam o teste RT-PCR, existem os falsos negativos. A pessoa vai contaminar os outros mesmo que eles estejam vacinados.”
O epidemiologista Mario Dal Poz vai ao encontro dessa avaliação. “É possível ter se infectado, estar com o exame negativo e carregar o vírus por aí”, diz ele, que é professor do departamento de medicina social da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
De acordo com ele, não basta apenas suspender o Carnaval de rua, é importante cancelar eventos em espaços fechados que gerem aglomeração. Isso inclui, diz ele, os desfiles no Sambódromo.
“Ele é em tese um espaço aberto, mas não é exatamente assim. Todos os camarotes são fechados. Além disso, fora deles, as pessoas vão socializar, vão cantar, beber”, afirma o professor, acrescentando que o uso da máscara vai acabar sendo deixado de lado nesse contexto. “É um risco enorme.”
A epidemiologista Gulnar Azevedo diz que a decisão de manter os desfiles ainda é prematura. Segundo ela, seria preciso ter certeza de que os casos de ômicron vão começar a cair e ter vacinado as crianças. No Rio, a imunização desse grupo começa na próxima segunda (17).
“Eu acho muito arriscado decidir isso agora, porque o aumento da transmissão pela ômicron é assustador. A positividade dos testes nas unidades da prefeitura está maior que 40%, o que significa que tem muita gente infectada”, diz ela, que também é professora da UERJ.
Azevedo salienta que, embora se mostre mesmo agressiva, a variante tem alto poder de transmissão. Segundo ela, mesmo que haja um número menor de casos graves, eles podem ser expressivos por causa da quantidade de infecções. “Uma coisa é 1% em cem, outra coisa 1% em um milhão.”
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde diz que está acompanhando o comportamento da nova variante. “Qualquer alteração no mapa de risco passa pela análise criteriosa dos dados epidemiológicos e novas medidas e estratégias poderão ser então definidas, inclusive referente ao Carnaval. Mais informações sobre o assunto serão divulgadas oportunamente.”