Estudo de brasileiros publicado na Nature aponta os principais riscos identificados na saúde da população que vive próxima às queimadas.
A fumaça das queimadas impacta na saúde da população a ponto de causar danos no DNA e morte das células dos pulmões. A conclusão é de um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) publicado na revista científica Nature, em 2017.
De acordo com a pesquisa, mais de 10 milhões de pessoas estão diretamente expostas a altos níveis de poluentes devido aos desmatamento e incêndios na Amazônia.
O estudo diz que a exposição das células pulmonares humanas a partículas menores que 10 µm (ou dez micrômetros, que equivale a 10 milionésimos de metro), que são emitidas durante as queimadas, aumentou significativamente o nível de espécies reativas de oxigênio, citocinas inflamatórias, autofagia e danos ao DNA.
Além disso, se a exposição for continuada, aumentam-se as chances de apoptose e necrose, ou seja, a morte das células.
“Para as crianças, há a perda da função pulmonar. Nós detectamos isso na Amazônia, nós temos a perda da cognição, do aprendizado, da memorização e da capacidade de aprender”, diz Sandra Hacon, pesquisadora e especialista em Saúde Pública e Meio Ambiente, da Fiocruz.
“A fumaça é composta por hidrocarbonetos aromáticos que são cancerígenos, no entanto recentemente encontramos um poluente carcinogênico proveniente da queimada diferente dos hidrocarbonetos que conhecíamos, que é chamado de reteno”, afirma Sandra.
Apesar do registro da presença da substância na fumaça, ainda não há nenhum caso confirmado de câncer associado ao reteno.
A pesquisa foi feita em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) e as universidades federais do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Norte.
Imagem registrada na terça-feira, dia 27, mostra queimadas em Santo Antônio do Matupi, no sul do Amazonas. — Foto: Gabriela Biló/Estadão Conteúdo
Impacto na saúde
Em Lábrea, interior do Amazonas, as queimadas elevaram em 15% os custos da área da Saúde.
“Há um Impacto aí de em torno de 15% no aumento do custo da saúde nesse período do ‘verão das queimadas’ [o verão amazônico vai de junho a agosto]. A gente tá fazendo um planejamento para aquisição de 250 mil reais a mais de medicamentos pra fazer o enfrentamento dessa problemática que tem transtornos direto e impacto na saúde da população Labrense”, diz Dário Vicente da Silva, secretário de Saúde de Lábrea.
O estado do Amazonas já bateu o recorde de focos de incêndio neste mês de agosto, se comparado a toda a série histórica medida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), desde 1998. Foram 6.145 focos.
No Acre, Antônio Assaf, pai do pequeno Samuel, diz que o menino apresentou sinais de asma neste ano. “Ele está tossindo muito. Está até com asma agora. Antes não tinha, agora apareceu. Ele fica muito cansado. O pior é isso: fica muito cansado.”
Neste ano, a secretaria estadual de Saúde do Acre registrou 47 mil casos de doenças respiratórias. O estado teve 2.498 focos de queimadas, de janeiro até 20 de agosto, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). No boletim apresentado pela Secretaria de Meio Ambiente do Acre (Sema), Feijó, Tarauacá e Sena Madureira aparecem entre as cidades mais críticas com 517, 394 e 261 focos de queimadas respectivamente durante o ano.
Queimadas na Amazônia
Neste ano, as queimadas no Brasil tiveram um aumento de 82% em relação ao mesmo período de 2018 e os focos de queimada no bioma Amazônia já superam a média histórica de agosto.
Nesta quinta (29), o governo federal decidiu proibir as queimadas em todo o país durante o período da seca.
A medida foi anunciada em meio à crise ambiental e diplomática provocada pela escalada do número de queimadas e do desmatamento na Amazônia.
Na semana passada o presidente Jair Bolsonaro editou decreto autorizando o uso das Forças Armadas no apoio aos estados da Amazônia Legal no combate ao fogo.
Por G1