Mortos no Jacarezinho tinham passagem pela polícia e envolvimento com o tráfico relatado por parentes

De acordo com os dados do documento, as 27 vítimas civis tinham entre 16 e 48 anos

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O relatório de inteligência da Polícia Civil sobre a operação do Jacarezinho, na zona norte do Rio de Janeiro, afirma que todos os mortos pelos agentes tinham registro em suas fichas criminais ou envolvimento com o crime confirmado por parentes.

De acordo com os dados do documento, as 27 vítimas civis tinham entre 16 e 48 anos. Quase todas (25) tinham registro de passagens pela polícia. Os crimes mais comuns são tráfico de drogas, roubo e furto.

Em relação aos dois sem passagem na polícia, há depoimentos de parentes confirmando o envolvimento na quadrilha que atua no Jacarezinho. O mesmo ocorre com outras quatro pessoas mortas pela polícia que tinham registro na ficha criminal.

Entre os 27 mortos pela polícia, 16 tiveram passagens pelo sistema penitenciário, sendo que 2 eram considerados foragidos.

A Operação Exceptios foi a mais letal na história do Rio de Janeiro. Além dos 27 civis, o policial civil André Frias também foi morto no confronto.

O relatório não detalha como as vítimas foram mortas pelos agentes. De acordo com o governo, todos foram baleados em confronto com a polícia.

As 27 mortes de civis ocorreram em 12 confrontos distintos, envolvendo 29 policiais, segundo mostram os boletins de ocorrências registrados na Divisão de Homicídios.

Vítima da morte que vem levantando mais suspeita entre observadores externos da operação, Matheus dos Santos, 21, tinha uma passagem na polícia por furto quando adolescente. O relatório apresenta fotos dele em redes sociais com uma arma.

Matheus foi o jovem encontrado numa cadeira de plástico sem qualquer arma.

Dos 27 mortos, apenas 3 eram alvos de mandado de prisão, a partir da investigação sobre associação ao tráfico de drogas que teve como base fotos em redes sociais.

Um indiciado pela Polícia Civil na mesma apuração, mas não acusado pelo MP-RJ, também foi morto na operação.

O Ministério Público afirmou que está realizando uma investigação independente do caso. Familiares dos mortos e moradores do Jacarezinho foram ouvidos nesta segunda-feira (10) por promotores do caso.

O jornal Folha de S.Paulo revelou nesta segunda-feira (10) que os documentos também indicam que a Polícia Civil descumpriu a determinação do STF (Supremo Tribunal Federal) de evitar a remoção de vítimas das ações policiais.

Os documentos e registros dos hospitais sugerem que os corpos de 25 das 27 vítimas de policiais foram retirados pelos próprios agentes do local das mortes. Em apenas uma ocorrência, com duas mortes, há referência a remoção de cadáveres pela Defesa Civil –embora o boletim de ocorrência mencione socorro no hospital.

A medida contraria determinação expressa do STF sobre formas de atuação em operações policiais no Rio de Janeiro. O plenário da corte decidiu no ano passado que o Estado deveria orientar seus agentes a “evitar a remoção indevida de cadáveres sob o pretexto de suposta prestação de socorro”.

A medida foi determinada para que fossem preservados todos os vestígios das ocorrências nas operações.

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