Projeto gera benefícios e estímulo na agricultura familiar

Iniciativa que contempla o Pontal envolve os cursos de ciências agrárias, prefeituras e outros parceiros

O produtor familiar Alexandre Marques Palhares, do assentamento São Bento, está entre os recentes beneficiados pelo Programa Pequena Propriedade Sustentável (PPPS). Diante dos benefícios gerados com projetos desenvolvidos por equipes dos cursos de ciências agrárias da Unoeste e a logística da prefeitura e outros parceiros, Palhares e sua família se sentiram estimulados em aumentar a produção de leite como atividade principal e melhorar as demais atividades em dois lotes de 17,5 hectares cada.

Nesta quarta-feira (3), estudantes e o professor doutor Marco Aurélio Factori passaram a manhã na propriedade para avaliar a produção de milho, no cultivo de cinco hectares em sistema consorciado de pastagem. Foi feita a estimativa da massa verde em 25 toneladas por hectare, mas que poderá chegar a 28 quando do corte para produção de silagem, com parte da forragem seca e o milho em ponto de colheita. Com menos água e mais massa, aumenta o peso e o rendimento de alimento para os animais.

A previsão é de que o milho plantado em abril esteja no ponto de colheita dentro de 20 dias. Palhares foi orientado sobre os bons resultados em saber o ponto certo e também de procedimentos a serem adotados no processo de produção da silagem, para uma boa conservação da forragem a ser utilizada na alimentação do gado, atualmente para 15 vacas, sendo cinco em fase final de lactação, com a produção diária de 160 litros extraídos em ordenha mecânica e armazenagem em tanque resfriador.

Junto com sua esposa, Rosimeire, e o filho Leonardo, Palhares conta que já chegaram a extrair 400 litros de leite por dia, há três anos. Mas foram reduzindo o número de animais por conta de problemas com alimentação. Somente na seca do ano passado perderam três vacas, mas neste ano receberam orientação do engenheiro agrônomo Ramiro Ferreira Dourado Júnior, egresso da Unoeste onde também fez o curso de Direito e que, entre outras ocupações, é vereador em Mirante do Paranapanema.

Produção variada – Foi aí que passaram a contar com atendimentos pelo PPPS. Na Estância 3 Irmãos as expectativas são as melhores possíveis e com mais um projeto em fase de implantação que é a olericultura em estufa, cuja estrutura já está pronta, restando cobrir e fechar nas laterais, no fundo e na frente. Palhares conta que a intenção é cultivar alguns produtos diferentes, para atender o mercado local. A propriedade já tem esse perfil de produção variada, com ovo caipira, ovo de codorna, peixe, porco e carneiro.

Também fazem processamento de polpa de tomate e polpa de frutas que leva a marca Polpa de Fruta Rose. Produtos comercializados na merenda escolar, na cidade e no assentamento mais conhecido como Pé de Galinha.  Mirante possui 38 assentamentos em 1,2 km² de extensão territorial, sendo o município brasileiro com maior número de assentamentos da reforma agrária no país. São cerca de sete mil pessoas na zona rural, o que representa 39% dos 18 mil habitantes estimados pelo IBGE em 2017.

Uma realidade semelhante em 16 municípios da região do Pontal do Paranapanema que juntos têm 115 assentamentos, dos quais 98 pelo governo estadual e 17 do federal, respectivamente junto ao Itesp e o Incra. São 6 mil famílias com cerca de 24 mil pessoas ocupando 1,5 milhão de metros quadrados. Portanto, Mirante do Paranapanema possui 1/3 de assentamentos e de pessoas. Neste contexto é que há cinco anos a Unoeste mantém posição de vanguarda com o PPPS.

O programa não é exclusivo desta questão agrária e está aberto às pequenas propriedades dos 32 municípios do Pontal, região de 620 mil habitantes (10,26% rurais), conforme explica o professor Neimar Nagano que atua na linha de frente juntamente com seus colegas Pedro Veridiano Baldotto, Paulo Claudeir Gomes da Silva e Rosimeire de Souza Santos. Estão envolvidos outros professores da Agronomia, Zootecnia e Medicina Veterinária, sendo que cada um contribui com a sua expertise.

Parceiros

Além das prefeituras, através das secretarias e casas da agricultura, são parceiros a Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS), Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). A aplicação do PPPS começa com os levantamentos dos perfis da família, da propriedade e da demanda municipal e regional para definir o que será produzido.

Há predominância do leite como atividade principal, por ter como um dos fatores preponderantes a geração de renda mensal. A orientação do programa ofertado pela Unoeste é para agregar pelo menos mais um produto de hortifrúti, de preferência que atenda aos valores nutricionais da merenda escolar que tem autorização para consumir no mínimo 30% de produtos da agricultura familiar, conforme preconiza o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).

Em cinco anos, são 30 propriedades atendidas em Presidente Bernardes, Narandiba, Mirante e Taciba, com lei aprovada pelas câmaras de vereadores autorizando os prefeitos a formalizarem os convênios. Em Presidente Venceslau irá começar. Com as autoridades de Santo Anastácio e Estrela do Norte são feitos os entendimentos iniciais. Os gestores públicos são orientados a instalar o Serviço de Inspeção Municipal (SIM) para dar suporte à comercialização de produtos de origem animal.

Além da prática

A equipe funcional que está atuando em seis propriedades no momento, conta com os alunos Anelise dos Reis Oliveira, Bianca Batista Magalhães, Douglas da Silva Mafra, Eduardo Sanches Rodrigues, Gustavo Ximendes Dourado, Heitor Ederli, Letícia Nardin, Marcelo Augusto Scaioni Migotto e Thayse Ribeiro Rodrigues Gomes. Parte deles apresentou aos professores já citados, incluindo ainda José Gustavo Vieira, o balanço do 1º semestre e medidas adotadas para o planejamento da sequência dos atendimentos.

Em nome da equipe, Thayse diz que o PPPS vai além da prática, exatamente pelo relacionamento humano e por abrir porta no mercado de trabalho.  “O nosso trabalho não é só técnico, mas especialmente humano e solidário. O senhor Alexandre [Marques Palhares] já teve muito prejuízo em sua propriedade, por falta de assistência. Já se dizia sem forças, mas quando mostramos as boas perspectivas, ele até chorou. Hoje, está mais feliz e a família também”, comenta sobre o poder de transformação do programa.

Palhares está entusiasmado com a ampliação da variedade de produtos, com a olericultura em estufa coberta; além de poder aumentar o rebanho e extrair leite em maior quantidade, quando melhorar o pasto, o manejo e a produção de alimento com a silagem. A família acorda cedo, trabalha bastante e tem gosto no que produz. Tem o conforto da moradia com piscina e a boa qualidade de vida que a natureza oferece, com a casa rodeada de árvores, incluindo as frutíferas.

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