Epitaciano luta para transformar prédio histórico em museu

Wilsinho Cruz reivindica revitalização da estrutura e formação de um centro na Vila Tibiriçá que rememore a história da navegação em Epitácio

Há quase uma década o epitaciano Wilsinho Cruz, que atualmente reside na capital do Estado de São Paulo, reivindica a transformação do histórico prédio no Porto/Vila Tibiriçá, em Presidente Epitácio, no Museu Regional da Navegação e de Nossa Senhora dos Navegantes.

O intuito de Wilsinho é rememorar a importância histórica da navegação fluvial no município e, consequentemente, no oeste paulista. “Epitácio foi por décadas, até os anos 60, o segundo porto fluvial mais movimentado do Brasil, ou seja, existe um riquíssimo material histórico sobre a navegação. Essa história existe e eu a conheço, porém ela não está materializada, está morrendo e a região de forma geral não sabe da influência da navegação para o desenvolvimento do oeste paulista”, relata Wilsinho.

Segundo ele, que atua na área de TI (Tecnologia da Informação), a revitalização do prédio para construção de um museu sobre a história da navegação em Presidente Epitácio e região, além de contribuir para a consciência da formação histórica do oeste paulista, fomentaria ainda mais o turismo no município. “Isso é um atrativo turístico e irá fomentar o turismo regional em Epitácio afinal é uma história da região que está esquecida”, argumenta ele.

Conforme indica, a situação do local, que foi sede da autarquia federal denominada Serviço de Navegação da Bacia do Prata até o final da década de 70, é lamentável e se encontra em situação de abandono há um bom tempo.
“Olha, dá dó. Infelizmente, tenho até apelido para o prédio. Eu o chamo de ‘idoso de 62 anos’ que sofre de crônico abandono por parte da Prefeitura”, narra Wilsinho.

 

MÁ VONTADE DO EXECUTIVO

De acordo com o filho da terra, a proposta para transformação do prédio histórico em museu foi apresentada diversas vezes ao poder público, porém, segundo Wilsinho, há má vontade por parte do Executivo em levar a ideia adiante.  “O mais absurdo é que esse prédio fica ao lado de uma academia da saúde e a menos de 20 metros de um posto de saúde.

A Prefeitura não tem interesse em revitalizar aquele local”, lamenta.
De acordo com o epitaciano, o município chegou a receber uma verba de R$ 200 mil, mas recusou a aquisição deste montante. “A prefeita tinha possibilidade de pegar esta primeira parte da verba e, em outro, momento conseguir mais. No mínimo, seria uma boa demonstração de vontade política. Mesmo que não fosse feito neste momento, o dinheiro poderia ficar no banco rendendo juros e se não fosse usado após três anos seria devolvido ao Estado”, relata.

Wilsinho é crítico ao que chama de “má vontade política” em relação a falta de manifestação para a requisição de verba ao programa Pontal 2030, do governo de São Paulo, que é voltado para o desenvolvimento regional.

 

RESPOSTA DO EXECUTIVO

À reportagem de O Imparcial, a prefeita de Presidente Epitácio, Cássia Furlan (PSDB), encaminhou a resposta do Executivo em relação às críticas e a reivindicação de Wilsinho para transformação da antiga sede da Bacia do Prata, na Vila Tibiriçá, em um museu da navegação.

Quanto à verba de R$ 200 mil que o município recebeu, mas foi recusada, a chefe do Executivo fala sobre a inviabilidade deste valor para a restruturação do local. “Esse prédio está sem funcionar a mais de 20 anos. Ele conseguiu uma emenda parlamentar, mas só R$ 200 mil. A reforma custará mais de R$ 700 mil, portanto não foi possível utilizar na reforma”, argumenta.

Quanto ao programa Pontal 2030, a prefeita discorre que os programas e verbas são escolhidos pelo governo estadual. “Até agora foram investidos em recapeamento de estradas por toda nossa região. Também para asfalto e infraestrutura. Não existe verba para utilizar nesse prédio”, pontua a chefe do Executivo.

A prefeita também se posiciona sobre ao que Wilsinho denomina de “má vontade política”. “Não encaro como má vontade, porque [o prédio] está parado há muito tempo. O que ocorre é que temos muitas demandas com um dos menores orçamentos de todo o Estado. Trabalhamos com prioridades”, explica ela.

EC FLUVIAL TIBIRIÇÁ

Wilsinho Cruz também é administrador da página EC Fluvial Tibiriçá no Facebook que é destinada a retratar a história de Presidente Epitácio e da Vila/Porto Tibiriçá. Até o momento, segundo ele, foram publicadas mais de duas mil imagens sobre a navegação e de personagens que contribuíram para formação social do município. “Tenho um acervo de quase 30 mil fotos, o que poderia contribuir para a materialização disso seria a construção do museu. O conteúdo do museu é o que menos pesa. A matéria-prima tem de sobra”, pontua.

 

Nossa Senhora dos Navegantes

O epitaciano destaca que incorporou o nome de Nossa Senhora dos Navegantes à alcunha do que ele luta para ser o museu da navegação no município por conta da importância cultural da festa que possui o nome da santa. “Meu pai é um dos fundadores desta festividade e no ano passado durante a festa tive a ideia de dar o nome do museu à Nossa Senhora dos Navegantes”.

O pai de Wilsinho, o contador aposentado Wilson Cruz, inclusive, escreveu, em 2019, a obra “Festa de Nossa Senhora dos Navegantes: 70 anos de história”. Este periódico noticiou a publicação.
Segundo material exposto no site da Prefeitura de Epitácio, a procissão fluvial é realizada entre os Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul (MS), desde 1948. As três primeiras procissões da festa de Nossa Senhora dos Navegantes foram realizadas dia 2 de fevereiro. Os desastres e os afogamentos que aconteciam nas águas dos rios, com a ocorrência de enchentes do início de ano, tornavam a festividade perigosa. Naquela época, não havia a proteção da Polícia Naval como existe nos tempos atuais.

Em 1951, na 4ª edição da procissão, a data da realização da festa foi alterada para o dia 15 de agosto nos moldes da celebração portuguesa.
De acordo com o historiador carioca Luiz Antonio Simas, a festa de Nossa Senhora dos Navegantes, que é celebrada em diversos locais do Brasil no dia 2 de fevereiro, possui em sua raiz histórica no país, desde o século 18, o sincretismo com Iemanjá, orixá do Candomblé que é referenciada como divindade das águas doces e salgadas, ninfa do rio Ogum. No espectro católico, a fé em Nossa Senhora dos Navegantes é datada a partir do século 15 quando os navegadores europeus, especialmente os portugueses, pediam proteção a santa para retornarem salvos à pátria e viam Maria como uma eterna vencedora dos inimigos das tempestades.

 

Facebook/Paróquia São Jerônimo – Festa de Nossa Senhora dos Navegantes é celebrada em Presidente Epitácio desde 1948

O Imparcial

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